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Salmo 23 — paz no rebanho de Deus
Denise A. Colliver
Da edição de Dezembro de 1999 dO Arauto da Ciência Cristã
Quando sentimos o anseio de sermos amados, confortados e acalentados, podemos nos volver ao Salmo 23, escrito por Davi, rei de Israel, que, em sua juventude, foi pastor de ovelhas. Esse Salmo está mais ou menos no meio da Bíblia.
Quem já viveu nas colinas da Terra Santa — a parte do Oriente Médio onde foi fundado o Cristianismo e onde o Salmo foi escrito — poderá sentir, imediatamente, o profundo senso de segurança contido nas belas imagens transmitidas pelas palavras desse Salmo. Quem, por outro lado, não tem nenhum conhecimento dos costumes dos pastores dessa área, como a maioria de nós, talvez deixe de compreender integralmente esse antigo cântico de louvor a Deus. E isso seria uma lástima.
O Dr. James McMurtry, estudioso da Bíblia e religioso cristão, foi viver e estudar com os pastores da Grécia e da Palestina, hoje Israel, por várias semanas. Seu trabalho, publicado em 1959, esclarece maravilhosamente o significado desse Salmo.
O louvor a Deus é vital para o cristão, pois ele reconhece a Deus como a fonte de seu próprio ser. E é assim que o Salmo começa:
“O SENHOR É O MEU PASTOR; NADA ME FALTARÁ.”
Os pastores e guardadores de animais, nas pastagens que rodeiam o Mar Mediterrâneo, têm controle absoluto sobre seus rebanhos. Esse controle é fruto de gerações de confiança mútua, respeito, lealdade, e amor. Por exemplo, esse controle lhes permite levar suas ovelhas e cabras para uma área de pastagem e fazer com que os animais aguardem, até que uma parte selecionada do pasto tenha sido delimitada para cada animal e, então, fazê-los começar a comer ao som de um assobio. Quando cada ovelha atinge o limite de sua área, ela pára de comer.
Do mesmo modo, se dois ou mais rebanhos estão dividindo um único aprisco — uma área cercada com pedras, onde as ovelhas dormem à noite, a salvo de animais ferozes — os pastores, cada um com seu assobio individual, podem separar dos outros seus próprios animais, e guiá-los para as pastagens, de manhã. As ovelhas nunca vacilam, mas respondem com uma obediência incondicional, pois o pastor nunca as decepciona.
“ELE ME FAZ REPOUSAR EM PASTOS VERDEJANTES.”
Tanto ovelhas como cabras gostam de repousar no meio da manhã e “ruminar” — uma maneira de digerir o que elas acabaram de comer. É durante esse período que elas engordam; portanto, se o pastor notar uma única ovelha que ainda está comendo, depois que as outras já se deitaram, ele vai até ela, certifica-se de que tenha o bastante para comer e então a faz repousar com as outras.
“LEVA-ME PARA JUNTO DAS ÁGUAS DE DESCANSO;”
Aparentemente, as ovelhas preferem morrer de sede do que beber em córregos de águas turbulentas; contudo, nas montanhas da região, essa é a única água disponível. Portanto, todos os dias, num momento determinado, o pastor prepara um pequeno dique com pedras, represando a corrente de água, a fim de permitir que as ovelhas bebam calmamente em águas mansas. Depois disso, o pastor desmancha o pequeno dique, deixando que o córrego desça livremente até o próximo pasto, onde o processo se repete.
“REFRIGERA-ME A ALMA.”
Todos os dias, cada ovelha ou cabra, vai para perto do pastor para uma expressão de afeição mútua. Isso faz bem tanto ao pastor como ao animal. Restaura um senso de bem-estar e união. Conforme cada ovelha se aproxima dele, o pastor abaixa-se, acaricia a cabeça e as orelhas do animal e fala-lhe amorosamente. O pastor tem certeza de que dentro de si ele tem a capacidade de trazer de volta ao aprisco até mesmo a mais rebelde das ovelhas.
“GUIA-ME PELAS VEREDAS DA JUSTIÇA POR AMOR DO SEU NOME.”
Se um pastor perdesse uma única ovelha por falta de cuidado, ele perderia o prestígio e ficaria desonrado. Se perdesse mais do que uma ovelha em uma única temporada, ele nunca mais seria contratado como pastor. Num pasto montanhoso, existem muitos perigos e as ovelhas podem ocasionalmente quebrar uma perna ou machucar-se. O pastor trata-la-á com muito cuidado, no aprisco, para que se recupere, até que possa voltar ao rebanho. Conseqüentemente, ele é muito zeloso da segurança de seus animais e, algumas vezes, os guia por um caminho mais longo até as pastagens, evitando o caminho mais curto, porém perigoso. Sua reputação, seu nome, está em jogo.
“AINDA QUE EU ANDE PELO VALE DA SOMBRA DA MORTE, NÃO TEMEREI MAL NENHUM, PORQUE TU ESTÁS COMIGO;”
O “vale da sombra da morte” ou o “vale das sombras profundas” é um penhasco rochoso íngreme, com encostas quase verticais, com cerca de 450 metros de profundidade, que fica no caminho que vai de Jericó a Jerusalém, na extremidade norte do Mar Morto. O sol raramente alcança o fundo daquela garganta.
Na base desse penhasco, existe um canal estreito de aproximadamente seis quilômetros e meio de comprimento, um metro de largura e dois de profundidade, por onde corre um rio com corredeiras muito rápidas. No início do verão, cada rebanho precisa viajar para pastos sazonais, ao longo de um caminho que acompanha esse rio. No fim do verão, eles retornam. No meio da subida, a trilha atravessa o rio de um lado ao outro — mas não há nenhuma ponte. Os animais e o pastor precisam saltar essa distância.
O pastor fica sobre uma saliência rochosa de um lado ou do outro, encorajando cada ovelha a pular e levanta-a com segurança, caso ela escorregue ou caia na correnteza.
“O TEU BORDÃO E O TEU CAJADO ME CONSOLAM.”
Existem três ferramentas para o ofício de pastor — bordão, cajado e capa. Tradicionalmente, o bordão é um bastão feito de um galho de árvore, com uns três centímetros de largura e um gancho numa das extremidades. O pastor usa o bordão para puxar um animal que tenha caído em alguma fenda, na rocha. Algumas vezes, ao invés de ir para perto do pastor, durante o dia, uma ou outra ovelha fica parada, imóvel, e espera que o pastor venha até ela. Sentindo que o animal deseja uma demonstração de força, para aumentar seu senso de segurança, o pastor finge que vai descer o bordão com força sobre o seu pescoço, parando o golpe quase em cima dela; ele nunca machucaria uma ovelha. Então, ele a acaricia e a anima como de costume, até que esteja satisfeita. Assim, o bordão serve para proteger e dar ânimo. O cajado é um bastão mais pesado, que serve para defender o rebanho contra animais selvagens.
“PREPARAS-ME UMA MESA NA PRESENÇA DOS MEUS ADVERSÁRIOS, ...”
Cresce nas montanhas uma erva daninha venenosa, tão mortal que uma pequena dose mataria uma cabra em poucos minutos. É a primeira coisa verde que aparece, na primavera, e o pastor vai até o pasto escolhido várias horas antes, para remover cada sinal dessa erva daninha. Assim ele prepara meticulosamente o pasto do dia, tendo em mente o bem-estar do rebanho.
“UNGES-ME A CABEÇA COM ÓLEO; O MEU CÁLICE TRANSBORDA.”
Especialmente onde há apenas um pastor para guardar o rebanho todo, de dia e de noite, é usado um aprisco. Esse aprisco tem apenas uma entrada, na frente da qual deita-se o pastor, virado para o interior, de tal maneira que, mesmo adormecido, ele possa sentir qualquer movimento e agitação no rebanho.
Porém, antes de as ovelhas entrarem, ele faz com que elas passem, uma a uma, por debaixo de seu bordão, que ele apóia contra seu ombro, formando um ângulo. Ele examina cada uma, procurando machucados, sementes de grama nos olhos ou nos ouvidos, ou qualquer outro detalhe que necessite de atenção. Os animais que apresentam algum problema são colocados de lado, até que o restante do rebanho esteja a salvo dentro do aprisco. Então, ele toma seu pote de azeite de oliva e unge os machucados, dá ao animal água para beber e coloca-o dentro do aprisco com os outros.
Somente depois de tudo isso é que ele comerá uma pequena refeição constituída de pão e azeitonas, enrolar-se-á em sua capa aconchegante e se deitará para dormir, atravessado na entrada do aprisco. Se qualquer animal ainda não tiver se deitado, ele lhe dará água, coloca-lo-á em posição para dormir e o afagará até que adormeça.
“BONDADE E MISERICÓRDIA CERTAMENTE ME SEGUIRÃO TODOS OS DIAS DA MINHA VIDA; E HABITAREI NA CASA DO SENHOR PARA TODO O SEMPRE.”
Essas duas linhas dão louvor ao pastor, quando seu terno carinho fica tão evidente na saúde e no bem-estar de suas ovelhas. Tal louvor provém das próprias ovelhas, numa retribuição de confiança e lealdade, e dos amigos e vizinhos que, de bom grado e em alta voz, proclamam a dedicação infalível do pastor. É a fruição, a prova, a bênção — o “Amém”, a completa anuência com o Salmo. Essas linhas o completam.
Usando a definição bíblica de Deus como Amor, a Descobridora e Fundadora da Christian Science, Mary Baker Eddy, dá o sentido espiritual do Salmo, à página 578 de seu livro, “Ciência e Saúde com a Chave das Escrituras.”
SALMO 23
[O AMOR DIVINO] é o meu pastor: nada me faltará.
[O AMOR] me faz repousar em pastos verdejantes. [O AMOR] leva-me para junto das águas de descanso;
[O AMOR] refrigera-me a alma [o sentido espiritual]. [O AMOR] guia-me pelas veredas da justiça por amor do Seu nome.
Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, porque [o AMOR] está comigo: a vara [DO AMOR] e o cajado [DO AMOR] me consolam.
[O AMOR] prepara-me uma mesa na presença dos meus adversários, [o AMOR] unge-me a cabeça com óleo; o meu cálice transborda.
Bondade e misericórdia certamente me seguirão todos os dias da minha vida; e habitarei na casa [a consciência] do [AMOR] para todo o sempre.
O Amor infinito e eterno está sempre presente. Está sempre suprindo cada um dos seus filhos — você e eu — em todas as suas necessidades. Ele supre, mantém, governa, alimenta, acalenta e envolve ternamente cada um de nós. Esta é a lei imutável do Amor, através da qual o homem existe. Nada pode impedir que você sinta suas bênçãos.